Muniz Sodré, o senhor da palavra!


Dia 26/06/12 me senti feliz e orgulhosa ao assistir a entrevista do Muniz Sodré na Cultura. Herdeiro de Milton Santos, nosso maior intelectual vivo, Muniz é, de fato, um dos Doze Obás de Xangô. A discussão proposta por ele, foi demarcada por um ponto de vista filosófico- ético-étnico-político-estético inalcançável a seus entrevistadores. E ele não o fez por soberba, longe disso, mas porque tem o pensamento requintado, fruto de uma formação intelectual sólida, múltipla e sensivelmente temperada pelo dendê. Muniz, ancorado por pedras, flutua quando pensa e fala. Ginga para se esquivar de perguntas medíocres e os interlocutores extasiados, mal disfarçam que estão falando de suas vidas pessoais, de seu mundinho de classe média branca, buscando conselhos para as questiúnculas vividas com os próprios filhos e netos no campo da escolarização. Muniz, por sua vez, altaneiro, soberano, insistia em pensar grande, pensava o Brasil. Ao final da entrevista, o mandingueiro ainda agradece por terem discutido seu livro novo, "Reinventando a educação", haja vista que, segundo ele, o livro não mereceu sequer uma nota na imprensa do Rio de Janeiro. Ossos do ofício de um intelectual negro neste país!
http://www.youtube.com/watch?v=LPxH2Z2Dzi0



Sobre o livro: Reinventando a educação (Vozes) não é um ensaio futurológico. É, antes, um repto reflexivo e político à velha pedagogia para que desperte da narcose colonial e assuma as mutações já em curso tanto no mundo do trabalho quanto do comportamento jovem. A reinvenção se dá, assegura Muniz Sodré, como uma disposição e uma reinterpretação abertas à consciência de hoje, assim como um alerta para a evidência de que a educação é a luz no fundo do túnel social, obscurecido pela crise dos valores, pela violência das drogas, pelas ameaças à saúde do planeta e pela retração progressiva das formas propriamente humanas de existência. Aqui está um livro a ser realmente lido e discutido.

Comentários

rafael cesar disse…
irretocável! descrição perfeita do que é muniz e do que foi a entrevista.

impressionante também uma das entrevistadoras perguntando insistentemente sobre a questão da suposta queda de qualidade da programação em função da ascensão social das classes populares. desconfiômetro zero. ela era incapaz de relativizar a própria ideia. era um ponto de partida, um axioma. gente pobre/preta = nível baixo.

e, acostumados ao posto confortável em que se encontram, nenhum jornalista ali foi capaz de fazer a relação entre o que o muniz fala de descolonização da educação no livro (nem tocaram nesse tema) e o fato de só haver jornalistas brancos de classe média na bancada. é realmente constrangedor.

o privilégio dessa gente é nefasto.

parabéns, um abraço!
rafael.

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