Joga o jogo!
Por Cidinha da Silva
Um dia desses, Alceu Valença teve um sonho. Nele, começava a grande guerra entre o morro e a cidade. Seu amigo Melodia era o camandante-chefe da primeira bateria lá do Morro de São Carlos. Alguém falava, ele entendia, nós precisamos escutar a rebeldia.
Eu sonhei que Célia e Olívia se encontravam num palanque na Praça Castro Alves, com o mar de Salvador protegendo-lhes as costas. As duas se olhavam nos olhos, sorriam o sorriso de quem conhece a fundo o assunto posto sobre a mesa e se abraçavam. O abraço elevava à enésima potência o valor simbólico da presença de ambas no pleito soteropolitano de 2012.
Pellegrino e ACMezinho com os braços cruzados sobre o peito, do lado de baixo, no chão, miravam a cena. ACMezinho com o tradicional sorriso cínico escancarado! Pellegrino com o ar blazé que o inscreve no mundo. ACMezinho, acenando para o povo, gritou Touché e ensaiou uns passinhos de afoxé. Pellegrino, com seu ar de enfado, disse Touché, entredentes.
Erundina, quando rompeu com a chapa de Haddad, pegou todos os adversários na curva e não houve outra saída para eles, senão gritar em uníssono: Touché!
Quando vi Lula constrangido ao apertar a mão de Maluf, entristeci, me recolhi. Quando vi Lula sorrindo para o Maluf, chorei humilhada. Touché!
Todo mundo joga o jogo e cada jogador ou jogadora usa os recursos que tem. Mas há que jogar o jogo, acima de tudo, e ter uma atitude, seja ela qual for. Não muda nada a resenha depois do jogo jogado ou a movimentação dos bonequinhos na prancheta, se não for para alterar o desenho tático da disputa. Foi o que fez a Espanha na decisão recente da Eurocopa, jogou o jogo, abriu mão do futebol arte total para vencer a Itália e sagrar-se campeã do torneio.
Desde a eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral temos escolhido o menos pior, temos jogado o jogo democrático possível. Escolhemos aquilo que romperá com o Status quo e nos oferecerá alguma brecha para a mudança. Sim! Temos feito “revolução pelo alto.” Sim! Reformismo é o que tem nos restado no jogo do pragmatismo político. Entretanto, este é o tabuleiro posto sobre a mesa e até construirmos mais Erundinas (com bala na agulha), precisamos jogar o jogo (sem abrir mão de valores e princípios, mas movimentando as peças). Cada jogadora com os recursos que dispuser. E de Touché em Touché, vamos roborizando as bochechas gordas do poder e tingindo de preto o que estiver ao nosso alcance.
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