Batuque no Muquifu sinhá não entra...





Doméstica, da Escravidão à Extinção. Uma Antologia do Quartinho de Empregada no Brasil
Primeira Mostra de Longa Duração do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos

Por Padre Mauro Silva


No dia 27 de abril, próximo sábado, é o dia da Empregada Doméstica (Festa de Santa Zita de Luca - Padroeira das Empregadas Domésticas), estamos preparando um evento que irá acontecer no Muquifu - Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos.

Há muitos anos sonho com algo assim... Comemorar o dia da Doméstica (também é meu aniversário) e poder criticar este modelo racista e escravocrata que se silencia diante de milhares de mulheres negras e pobres que, no Brasil, vivem em regime de semiescravidão, sendo exploradas, humilhadas e mal pagas, dentro das casas das madames e também das patroas de classe média, porque, sabidamente, no Brasil, a trabalhadora doméstica é símbolo de status (e resquício da escravidão) de quem pode pagar e julga que tem uma empregada, como tem uma coisa qualquer.

A coisa está pegando fogo aqui no Quilombo do Papagaio - Barragem Santa Lúcia! Eu tenho centenas de amigas que trabalham como Domésticas e algumas delas moram no Quartinho de Empregada, acreditem! Por isso elas estão loucas para contar sua História. Algumas estão preocupadas e querem defender suas patroas Outras, mais libertárias, menos oprimidas, querem denunciar as injustiças que viveram nas senzalas de ontem e de hoje. Esta primeira Mostra de Longa Duração do Muquifu - Doméstica, da Escravidão à Extinção. Uma Antologia do Quartinho de Empregada no Brasil - vai dar pano pra manga.


Durante o evento - Comemoração do Dia das Empregadas Domésticas - organizaremos uma oficina para a montagem de um Quartinho de Empregada. Vamos colocar dentro do quartinho apenas o que elas decidirem: caminha, vassouras, material de limpeza, televisãozinha, aparelho de telefone para atender os desmandes da patroa e sua família a qualquer hora do dia e da noite, retratos, pôsteres de cantores, perfumes, roupas, armário... Somente elas poderão escrever nas paredes brancas do quartinho suas memórias, histórias, protestos, agradecimentos etc. Esta será a primeira "peça" do acervo do Muquifu.

O Muquifu defende que cada um vá lavar sua própria privada e busca argumentos para o surgimento de uma sociedade nova, onde não haja mais lugar para Sinhás. Não acreditamos mais em discursos do tipo “Ela é como se fosse da família”, ou ainda “Mas quem é que vai lavar os banheiros, afinal?”, “Isso que dá não querer estudar.” Vamos ampliar este debate?! A Mostra Doméstica ainda não está pronta, ela será uma construção coletiva.

Para este dia 27 de abril estão convidadas exclusivamente as Empregadas Domésticas (Babás, Motoristas Particulares, Jardineiros, Lavadeiras, Passadeiras, Cozinheiras, Diaristas, Faxineiras, Horistas, Cuidadores de Idosos... Pessoas que exercem trabalho remunerado - semiescravo - no ambiente doméstico). Ou seja: Batuque no Muquifu sinhá não entra. Desculpem-nos, caras pálidas, mas esta festa é exclusiva para as Empregadas Domésticas.

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