Um texto para Geledés, quando completou 21 anos de História!


Por Cidinha da Silva


Geledés completa neste 30 de abril, 25 anos de vida! Parabéns! 
Quando penso na História desta Organização, penso em minha inscrição no mundo, pois vivi lá, alguns dos anos e acontecimentos mais importantes da minha vida. Cheguei com uma mala de sonhos em setembro de 1991 e saí, em dezembro de 2004, com a maioria deles realizada e tendo sonhado outros que sequer imaginava sonhar. 
Vivi alguns sobressaltos, até pesadelos, todos, entretanto, inerentes ao fazer político e aos humanos que fazem a política, ou seja, nada que maculasse o saldo final: positivo e operante! 
Lá, aprendi a ser soldada e comandante, mas me cansei da guerra. Ela, a guerra, é que não arrefece, assim, quem luta contra o racismo no Brasil, pode dar-se o luxo de escolher a trincheira. Isto não configura uma vantagem, propriamente, mas como guerrear é imperativo, que pelo menos possamos escolher o campo onde sejamos mais felizes. 
Geledés protagonizou capítulos importantes da História contemporânea do negro no Brasil e da luta pela superação do racismo e da discriminação racial. Numa passada superficial pela memória relembro seis deles.
1 – Como uma das ONGs negras mais velhas e consistentes do país, Geledés foi pioneira ao pensar um programa de comunicação para estruturá-la, responsável por fomentar o diálogo dos demais programas e ações da instituição com o mundo. 
2 – Geledés iniciou diálogo político independente, sem tutela, com um setor fundamental da juventude negra brasileira (hoje, sujeito autônomo e consolidado), o Movimento Hip Hop paulistano. Contribuiu para o aprofundamento da discussão racial junto às lideranças do Movimento, para a consolidação do próprio conceito político de juventude negra no Brasil, falamos de finais dos anos 80, início dos anos 90. 
3 – O trabalho realizado por Geledés com o SOS Racismo – Serviço de atendimento jurídico às vítimas de discriminação racial, inaugurou a alameda de trabalhos sobre o tema que veio a consubstanciar a área de Direito e Relações Raciais no país e fez "pegar" a Lei 7.716/89. 
4 – Iniciou, em 1994, o diálogo com diversas organizações negras da América do Sul, embrião da Aliança Estratégica de Organizações Negras da América Latina e Caribe que desempenhou papel essencial no capitaneamento de nossas demandas durante todo o processo preparatório de Durban e realização da III Conferência Mundial Contra o Racismo. 
5 – Geledés foi determinante na constituição da AMNB - Articulação de Mulheres Negras Brasileiras que, finalmente, é representante legitimada do coletivo de negras brasileiras organizadas, quer em instâncias nacionais, quer no exterior. 
6 - Por fim, o projeto Geração XXI, implantado em 1999, e demais programas de ação afirmativa que o seguiram, com vistas à promoção do acesso, permanência e sucesso de jovens negros em boas universidades, dois anos antes da III Conferência Mundial Contra o Racismo e da implantação das cotas para negros na UERJ, ambos em 2001. Antes também do grande debate sobre as ações afirmativas, como uma das estratégias possíveis de enfrentamento do racismo no Brasil. 
Daqui do blogue envio um beijo saudoso, um agradecimento emocionado e votos de vida longa e produtiva à casa que me acolheu durante 13 anos, me ensinou muito do que sei e me possibilitou ser quem sou. 21 anos não são 21 dias, mas os dois medidores de tempo são tempos de iniciação. 
 Para Geledés, uma canção: “Quem foi que falou que eu não sou um moleque atrevido?/ Ganhei minha fama de bamba/ No samba de roda/ Fico feliz em saber/ O que fiz pela música, faça o favor/ Respeite quem pode chegar/ Onde a gente chegou/ Também somos linha de frente de toda essa história/ Nós somos do tempo do samba/ Sem grana, sem glória/ Não se discute talento/ Mas seu argumento, me faça o favor/ Respeite quem pode chegar/ onde a gente chegou/ E a gente chegou muito bem/ Sem a desmerecer a ninguém/ Enfrentando no peito um certo preconceito e muito desdém/ Hoje em dia é fácil dizer/ Que essa música é nossa raiz/ Tá chovendo de gente que fala de samba e não sabe o que diz/ Por isso vê lá onde pisa/ Respeite a camisa que a gente suou/ Respeite quem pode chegar onde a gente chegou/ E quando pisar no terreiro/ Procure primeiro saber quem eu sou/ Respeite quem pode chegar onde a gente chegou." (Moleque atrevido, de Jorge Aragão, Flávio Cardoso e Paulinho Rezende).

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