Cultura sem racismo! Roda de Conversa em SP com Hilton Cobra – Presidente da Fundação Palmares
Cultura Sem Racismo!
Roda de Conversa em SP com Hilton Cobra – Presidente da Fundação Cultural Palmares
Por Liliane Braga e Pedro Neto
“Experimentei minha hereditariedade. Queria ser tipicamente negro – mais isso não era mais possível. Queria ser branco – era melhor rir. E, quando tentava, no plano das ideias e da atividade intelectual, reivindicar minha negritude, arrancavam-na de mim. Demonstravam-me que minha iniciativa era apenas um pólo de dialética.”
Frantz Fanon
A convite do Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais e da rede Kultafro, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, e a chefe da representação da FCP no estado paulista, Cidinha da Silva, reuniram-se conosco, representantes da cultura negra de São Paulo, no último dia 3 de junho. Puxado pelo tema da suspensão dos editais afirmativos, o encontro pautou a inexistência de políticas públicas para a cultura negra e a necessidade da união de forças em torno dessa demanda.
Entregamos a Hilton Cobra o documento elaborado a partir da análise dos editais afirmativos por parte da sociedade civil realizado no dia 11 de maio de 2013 na FUNARTE SP. No documento, também encaminhado para a Representação Regional do Ministério da Cultura em São Paulo e para a Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR, sugerimos a duplicação dos recursos financeiros e melhorias para os próximo editais afirmativos do Ministério da Cultura.
Cerca de 50 pessoas das áreas de produção, artes cênicas, literatura, hip hop, audiovisual e música negras e alguns representantes do movimento negro organizado expuseram questionamentos e refletiram conosco por cerca de 3 horas sobre a conjuntura que envolve a atuação da Fundação Palmares e a necessidade de se repensar a política dos editais que desloca a atenção da sociedade da demanda por políticas públicas efetivas e, no geral, são marcados por dispositivos que inviabilizam o acesso da população negra a tais recursos na medida em que a burocratização marginaliza potenciais proponentes que não se enquadrem em requisitos excludentes e dificulta a prestação de contas por parte das organizações sociais que, ao fim dos repasses, acabam por ser criminalizadas.
No encontro, Cidinha da Silva enfatizou a importância do encontro, que contou com um grande mosaico de artistas e produtores negros, de várias regiões da cidade de São Paulo.
Após explanar sobre o papel político desempenhado pela Fundação Palmares, Hilton Cobra falou sobre a grande burocracia no repasse de recursos para atividades culturais negras, bem como sobre a escassa quantidade dos recursos orçamentários da FCP destinados para o desenvolvimento de políticas públicas de cultura negra.
Para além da ação jurídica contra a atitude do juiz maranhense que suspendeu os editais afirmativos, Cobra propôs ainda solicitar à Ministra Marta Suplicy a cotização dos orçamentos de todas as Secretarias vinculadas ao Sistema MinC para as culturas negras. Essa solicitação também está sendo debatida no âmbito do Setorial Nacional de Culturas Afro-Brasileiras do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura e será pauta da reunião realizada pelo setorial nos próximos dias 19 e 20 de junho em Brasília.
A política pública para cultura não se resume em editais. Necessitamos organizar cada vez mais os fazedores das culturas negras em torno da construção transversal de políticas para o setor. Até quando os grupos e artistas negros serão usados somente em manifestações de rua em períodos eleitorais?
Na reunião, elegemos o lema “Cultura Sem Racismo”, criado por Hilton Cobra, para disseminar país afora uma campanha de repúdio ao racismo na cultura brasileira. Por essa campanha, artistas, intelectuais e cidadãos que queiram se expressar contra o racismo na cultura realizam vídeos e os disponibilizam na internet via redes sociais utilizando o lema escolhido.
Além disso, demandas elencadas por nós, participantes da reunião, resultaram em pautas para um próximo encontro, que será realizado no dia 17 de junho, das 19h às 21h, no auditório do MinC na Funarte SP. Serão debatidos “o que é produção cultural negra?”, a possível criação de um Fórum Permanente de Cultura Negra e de Conferências Livres de Cultura Negra rumo à Conferência Nacional de Cultura.
Os encontros entre Fundação Palmares, produtores e artistas negros seguirão pelo Brasil em datas a serem divulgadas no site da FCP. Com o mote de ampliar o debate e angariar apoio contra a suspensão dos editais de fomento à arte e cultura afro-brasileira do MinC, a finalidade de tais encontros também é fortalecer estratégias pelo fim das práticas racistas no campo das artes e da cultura afro-brasileira.
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