Esquenta: essa Coca é Fanta!



Por Cidinha da Silva

A apresentadora olha para a câmera aberta e dispara “vou fortalecer meu bonde que sempre me fortalece.” O que vem depois é a estética da laje, da favela, do funk, do samba de folhagem em meio a alguma raiz, do pagofunk. Os moradores da favela e seu orgulho por viver lá. 

A definição de moda do Rio e São Paulo Fashion Week vem de Paris, chega ao Saara e é devolvida ao mundo customizada pelo Complexo do Alemão. 

As travestis são mostradas de um jeito mais humano, com algum respeito. A Presidenta Dilma dá o ar da graça e discursa em defesa das cotas como forma de diminuir as desigualdades raciais. Fundamentada, enche os olhos de qualquer ativista. Ainda estava tudo no campo do entretenimento e nisso Regina Casé é imbatível. O Esquenta é incomensuravelmente melhor do que o Faustão, Os Trapalhões, velho ou novo, e qualquer outro humorístico da Globo. O problema é o sociologuês da diversidade, forma pseudo-intelectualizada de coroar a mistura defendida pelo programa.

O sociologuês é o ponto de mutação em que a Coca se revela Fanta. É a mudança conservadora, a transformação pelo alto, velha conhecida. Primeiro a apresentadora faz um comentário animador: "muita gente criticava o Esquenta dizendo que o programa só tinha preto. A produção contou e era 50/50. O problema é que nos outros não tem nada e aqui parece que tem muito." Animada, pensei que ela havia aprendido alguma coisa com as bordoadas dos pares. Naquele momento o nome do texto seria "aceita que dói menos", mas a seguir, a apresentadora emplacou a pérola sobre Obama. O programa afirma que ele é importante por ser o Presidente negro, ok, mas o é, principalmente, porque sua mãe casou-se com um africano e por isso gerou Obama. Depois casou-se com um cara da Indonésia e por isso ela é fantástica! O texto é o da diversidade torta, mas a entrelinha é o depoimento pessoal da mulher branca que supera todos os preconceitos (nutridos pelos seres inferiores) e primeiro casa-se com um africano, depois com um asiático, um indonésio que, via de regra, tem mais melanina do que japoneses, coreanos e chineses. E viva a miscigenação subordinada, a mistura, nome popular e contemporâneo que até hoje não conseguiu provar sua efetividade para os pretos, tampouco diminui os privilégios dos brancos.

Cansada, peço ao garçom o obséquio de uma garapa. Nem Coca, nem Fanta, uma garapa, por favor.

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