O fundo do fim




Por Cidinha da Silva

Disseram que era dia da saudade e quem a sentisse deveria compartilhar. O nó do novelo é que essas campanhas impulsoras do comércio de sentimentos às vezes pegam a gente em dia de sol escondido e o coração enfraquecido pode embarcar em canoa furada.

Naquele dia nublado reinavam as lembranças dos que se foram, Jarbas, Bira, Zozó. O primeiro, amigo amado, o segundo, gigante admirado, e o terceiro, um simpático catalizador de amor e jovens talentos, sequiosos de espaço para expressão.

Mas insistiam em buzinar que era dia da saudade e o que eu sentia não era saudade, era incômodo a cada vez que alguém marcava os já idos para lerem algo no computador. Era dor de atropelamento pela mecânica dos relacionamentos virtuais. Era incompreensão ocidental aos ensinamentos budistas da Senhora dos Ventos sobre a impermanência das coisas, o volátil da vida.

Era a sensação de não saber cortar a própria carne sem comer vidro.

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