Inversão de sentidos
Por Cidinha da Silva
Ela considerava aquele o dia
dela. Eu movia rios e montanhas para estar com ela, porque era algo muito
importante para sua localização no mundo.
Um dia ela se foi e,
deliberadamente, esqueci que o dia das mães existia. Permiti a mim mesma a
liberdade de não felicitar ninguém pelo marco ocidental do comércio de afetos,
nem mesmo as mulheres caras a mim, para as quais a maternidade era algo
fundamental. Livre, libertada, liberta
da opressão sentimentalista do dia das mães, me tornei.
Veio um dia novo e voltei a me
lembrar que havia um domingo em maio dedicado a elas. Conheci uma mulher que perdera
o filho ao nascer, cuja mãe telefonava no dia das mães para lembrá-la de que tinha
sido mãe um dia e aquele era o dia dela também.
Veio o mais novo dos dias, aquele
em que conheci a mulher que me ensinaria a ser mãe, a que mais admirei, venerei
pelo amor e pela tenacidade, pela certeza da escolha, pelos filhos íntegros e
belos que educou. O princípio e o fim dentro de casa, na própria prole, Exu e
Oxalá, como ela dizia.
Mas ela desistiu de tudo e só
restou no ar, no lugar dos “parabéns pelo dia das mães”, do meu tempo, o “feliz
dia das mães”, de hoje.
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Mumu Silva