Sobre-viventes!



Por Cidinha da Silva

Aqui não teremos disputa eleitoral sangrenta, candidato! Ou o senhor tem informações privilegiadas para nos dar? Terá o senhor notícia sobre ataques sistemáticos e sincronizados próximos à data do pleito? Hein, candidato?

Aqui o sangue escorre na noite das esquinas desertas e sombrias. Quando sai das artérias daqueles que deveriam garantir a segurança publica, nas noites de folga enquanto fazem segurança privada no comércio da quebrada, instala-se o terror, em represália. Os corpos são resgatados rapidamente e os colegas do morto trotam motocas possantes e carangos imponentes pelas ruas estreitas e fétidas das favelas próximas, instituem toque de recolher à base de grito e fuzis: “mataram um dos nossos, seus filhos da puta! Fica todo mundo em casa! Quem estiver na rua, não volta, senão leva bala. Um nosso, dez de vocês!”                                                                                                                                                             

A onda agora é matar sem pólvora, estão enforcando a molecada. O senhor sabia? Precisa acompanhar as sutilezas da cidade que pretende administrar, candidato!  O governador atribui a culpa da matança às armas e drogas que o governo federal não coíbe. O senhor responsabilizará o governo do Estado pelos corpos recolhidos à baciada? Ou mentirá dizendo que atuará junto com ele para enfrentar  o banho de sangue?

Só para informá-lo, ninguém aqui tem sangue extra para doar à sua eleiçãozinha mixuruca, de um mandato que não será cumprido, caso o senhor seja eleito.

Aqui, candidato, como no conto, avizinha-se o dia em que todos os esquadrões se unirão e formarão uma força invencível, disposta a acabar com a gente inocente que vive do outro lado da ponte.

Foto: Daniel Gabu, 22 anos, rapper, morador do Jd. Rosana, região do Campo Limpo, assassinado pela polícia de São Paulo, na noite de 14/10/2012.

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