Marina Silva estréia como colunista da Folha de São Paulo
(Da Folha de S.Paulo, em Brasília).
"Menos de um mês após deixar o cargo de ministra do Meio Ambiente do governo Lula, a senadora Marina Silva (PT-AC) estréia amanhã (hoje) como colunista da Folha.
Reconhecida como a principal voz da Amazônia, ela quer escrever sobre temas ligados ao desenvolvimento sustentável. "A coluna não será monotemática", afirma.
Maria Osmarina Marina Silva de Souza Vaz de Lima, 50, nasceu na Amazônia. Alfabetizada aos 16 anos, formou-se em história, cursou especialização em teoria psicanalítica, freqüentou aulas de direito e relações internacionais e termina agora curso de psicopedagogia.
Marina deixou a região de Breu Velho (AC) em 1975 e fez curso de alfabetização de adultos e supletivo. Ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.
A atividade parlamentar começaria em 1988, como vereadora em Rio Branco. Em 1995, chegou ao Senado. Em 2002, foi reeleita para o atual mandato de senadora, mas saiu para assumir o ministério. Deixou o posto ao se ver sem apoio de Lula para enfrentar pressões do agronegócio contra o combate ao desmatamento".
(Em legítima defesa, por: Marina Silva)
"INICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido de responsabilidade. Tenho a oportunidade diferenciada de usar um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo.
Para começo de conversa, trato de um entrave para o crescimento do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável patrimônio natural.
O Estado brasileiro criou medidas de proteção ambiental, muitas vezes em situações difíceis. Esse acúmulo alcança hoje limiar estratégico de inserção da variável ambiental no coração do processo de desenvolvimento. A sociedade entende esse momento, apóia, demanda. Diante disso, o Estado não pode se encolher diante do ponto a que ele mesmo chegou.
Movimentos retrógrados, saudosistas do tempo da terra sem lei, fazem pressões e recebem acenos de possíveis flexibilizações. Mas a sociedade bloqueia e restringe esses acordos. A Amazônia é o maior exemplo. A opinião pública mantém o debate, banca o combate ao desmatamento, dá suporte para a manutenção da lei do licenciamento e para a não-flexibilização da legislação ambiental.
O certo é que o Estado, em todos os seus níveis, não consegue utilizar o grande capital político de que dispõe para acompanhar o pique da sociedade. Ela cresceu, passou a perceber seus problemas de maneira mais complexa. O Estado cresceu, mas não amadureceu.
Há agora uma discussão importante que resume tudo: é preciso dinheiro para implementar as medidas e normas criadas, porém a relatoria ambiental do Orçamento que está sendo discutido no Congresso foi entregue à bancada ruralista, cuja oposição às medidas de combate ao desmatamento é conhecida. Talvez tenha havido uma negociação para assegurar aos aliados a relatoria das agendas de aceleração do crescimento. E o meio ambiente parece não ter tido a mesma prioridade.
Boa parte do Estado ainda vê na política ambiental um mal necessário. Fala-se em compatibilizar desenvolvimento e meio ambiente, como se fossem adversários a serem conciliados. O Brasil não tem que compatibilizar, tem que buscar um crescimento econômico cuja concepção já contenha a conservação ambiental. Que não veja as áreas preservadas como partes "retiradas da produção" e, sim, como imprescindíveis à produção equilibrada e com alguma noção de bem público. Isso é possível? Se não for, para um país que ainda tem 60% do seu território com florestas, então é mesmo hora de aumentamos, em legítima defesa, nosso estado de alerta".
contatomarinasilva@uol.com.br
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