Tássya da Bahia!

Recebo comunicação do Pablo dando conta de que mandou o logo da Mazza Edições para a Tássia, do Instituto Pedra de Raio, parceiro do Instituto Nzinga, na promoção do lançamento do Tambor, em Salvador. Digo que as meninas são ponta-firme e o evento promete. Constato depois que o cartaz ficou lindo. Ainda na esteira da logo, o Pablo aproveita pra me dizer: “Cidinha, a moça do Pedra de Raio não tem o mesmo nome daquela senhora famosa?” “Pô Pablo, é mesmo! Tássya, Tássya da Bahia, a poderosa vidente, cosedora de corações partidos! Mas peraí, você é muito jovem, como é que conheceu a Dona Tássia?” “Olha, Cidinha, conhecer propriamente, não conheci, nunca me vali dos préstimos dela, mas foi nos meus tempos de Escola Técnica. A equipe de panfletagem distribuía-os na porta da escola e tive algumas colegas que foram lá”. “Ah Pablo, fale a verdade, você também fez uma consultazinha?” “Não,não, Cidinha, não fiz não”. Acreditei. Dona Tássya era personagem folclórico da adolescência. Dizia-se especialista na solução de problemas de desengano e desespero amoroso. Começou com panfletos em papel jornal e atendimento numa portinha, à rua dos Caetés. Sempre destacava a origem, aliás era parte do nome próprio, como se o fato de "ser da Bahia" legitimasse seus supostos poderes. Com o tempo, por efetividade dos trabalhos ou aumento do número de clientes desesperados e desesperançados, não se sabe, ela melhorou a qualidade dos papéis distribuídos pelas ruas de Belo Horizonte, era o primeiro sinal da melhoria de vida. Em um deles, lembro-me bem, havia uma imagem dela, uma espécie de Iemanjá branca com olhos de Príncipe Namor. Na adolescência do Pablo ela erigiu uma casa enorme, quase um palacete, localizada à Av. Amazonas, uma das maiores da cidade, como o nome indica. Havia uma placa luminosa, provável inspiração em Tieta do Agreste - “Mãe Tássya da Bahia resolve qualquer problema amoroso” -, abaixo um letreiro grande, com os males que Dona Tássya curava: "quebrante, mal-olhado, perda de marido, impotência, quebra de feitiço de separação", etc. O patrimônio da consultora sentimental só crescia, o sinal mais evidente de riqueza foi a instalação de uma fonte luminosa na frente da casa e a colocação de uma imagem dela, acho, mimetizada com a tal Iemanjá branca, de braços abertos, cabelão até a cintura, os olhos de Príncipe Namor ou de Dr. Spock, não sei ao certo. Nunca tive certeza da declarada baianice dela, mas para efetividade da propaganda, o povo inventa certos pertencimentos e, se até os pretos da terra de Obama nos folclorizam, imagine os brancos daqui? Lembro-me que uma vez, no refeitório da Howard University, almoçava com o Prof. Ronald Walters, passou por nós uma professora, afro-brasilianista, e ele contou que estava de viagem marcada para o Brasil. “Para onde?”, ela perguntou. “Para a Bahia”, ele respondeu. Ela então, muito jocosa, cerrou o punho, levantou-o e disse: “give-me de Orixas’power” e gargalhou. Eu, furiosa, lancei-lhe uma maldição qualquer. Ser baiana/o é duro, mana, tá achando que é fácil?_______________________ Para saber mais sobre o Instituto Nzinga, clic aqui, e para saber mais sobre o Instituto Pedra de Raio, aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas