Coisa deles!
Por Cidinha da Silva
Tanto burburinho para nada. Kaká, um
bam-bam-bam no uso da mídia a seu favor, permaneceu no Real.
Durante o episódio da briga entre
ele e Mourinho, invariavelmente me lembrava de uma jovem jornalista portuguesa
que encontrei num seminário em Treviso, em meados dos anos 90. Eu era quase tão jovem
quanto ela e me dirigi a Oliviero Toscani, então diretor de criação da Benetton,
para dizer que se sua intenção era mesmo chocar as pessoas com as peças
publicitárias da empresa, veiculadas no Brasil, ele deveria criar outdoors com mulheres brancas
amamentando crianças negras. A imagem de uma mulher negra, amamentando uma
criança branca, apenas reiterava o mito da ama de leite.
Talvez meu destemor juvenil tenha
inspirado a jornalista e ela me perguntou a queima-roupa: “por que vocês
brasileiros não se misturam com a gente, em Portugal”? Mirei-a com a serenidade
de quem sabia do que tratava a questão. Era o tempo da perseguição aos
dentistas brasileiros além mar, porque estariam tirando o emprego dos colegas
portugueses. Segundo explicação do meu dentista, à época, a Odontologia no
Brasil é avançadíssima, principalmente na parte estética, formadora de profissionais
refinados, ao contrário daquela praticada em outros países. Além disso, ainda eram
sentidos os efeitos do Plano Collor e quem tinha condição, principalmente de
dupla cidadania, migrava.
Muitos brasileiros têm cidadania
portuguesa, como é sabido, destacando-se os jogadores de futebol que têm no
estatuto luso, uma porta de entrada para compor o elenco dos times europeus,
como jogadores pertencentes à União Européia.
Antes que eu respondesse, a
jornalista prosseguiu exaltada: “vocês escolhem uma praia só para vocês e não
se misturam conosco! Por quê? Por quê?” Acho que a vontade dela era dizer: nós
colonizamos o seu paízinho de merda, por que vocês nos desprezam?
Quando enfim, ela respirou,
iniciei minha resposta: “olha, eu não pertenço ao grupo racial e econômico dos
dentistas que migram para o seu país, portanto, não sei como eles pensam, você
deveria perguntar a eles.”
Insatisfeita, ela tascou mais uma pergunta: “por que nas novelas brasileiras os portugueses são morenos, barrigudos e de bigode? Por que são apenas donos de padaria? Sempre suados, feios e parecendo sujos? Nós temos loiros também, de olhos verdes e azuis, donos de variados tipos de negócios.” “Lamento, querida, mas não sei! Não faço parte do grupo que escreve e dirige as novelas brasileiras.” Sugeri, mais uma vez, que ela perguntasse a eles.
Também não tenho nada a dizer
sobre a querela entre Mourinho e Kaká. Quem tiver curiosidade sobre a motivação
de fundo, pergunte a eles!
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