Vi a imagem, rememorei o texto!
*Alugam-se moços
Por Cidinha da Silva
Elas
querem dançar e alugam moços. São senhoras bem-sucedidas e solitárias. Amantes
infelizes. Não refizeram a vida amorosa e desejam fazê-lo. No fundo, acham que
sexo é bom, sexo com afeto é ótimo e sexo com amor é divino.
Inventam
o amor para sobreviver. As amigas casadas, cansadas de emprestar os maridos e
de ouvir as reclamações deles, encontraram uma solução: alugam moços dançantes
para as festas do grupo. Uns tipos garbosos, bem apanhados, estilo anos
dourados. Elas vivem momentos de delícia com aqueles corpos jovens, cheirosos,
bons pés para valsar. Sempre rola um dinheirinho no bolso, um bilhete discreto
com o endereço e horário para o encontro. Dali, ninguém sai acompanhada por um
deles, é festa de família.
Enquanto isso, na sala de justiça, o rei da
soja, de protuberância abdominal mastodôntica, pescoço de sapo, olhos, boca e
pele de jacaré albino, expõe mulher jovem, de beleza gelada e estática, mas,
bela. Durante a entrevista, afirma que elas gostam de conforto, bons
restaurantes, viagens à Europa em cadeiras de primeira classe ou jatinhos
particulares, compras na Champs Elysées. Eles, homens maduro-ricos, segundo
particular definição de si e de seu grupo, gostam de boa e bela companhia. Da
juventude, do viço. É uma troca.
Para as mulheres maduras, a fantasia
continua. O moço dançante sugere o apagar das luzes, até do abajour. Tudo para
facilitar o ato. Ao resenhar o pós-encontro ao telefone, elas fabulam as
peripécias do amante, transformam a escuridão num clima, numa vela mágica e
perfumada, que ele, príncipe encantado, sacara de seu embornal de segredos.
Depois, uma variação de caminhos para enfrentar a solidão. Bebidas, choro,
farinha, cannabis, sessões extras no psicanalista, aumento da dose de
Tranquinal, Nervium, Ansienon, Deprax, Pondera, Zoloft. Qualquer coisa que
anestesie, alivie. Ampare e não impeça o próximo encontro.
*Do livro VOCÊ ME DEIXE, VIU? EU VOU BATER MEU TAMBOR!, de 2008.
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