Quero ser sua amiga!



Por Cidinha da Silva

Tudo começou com o envio de uma dúzia de gatinhos para a caixa de mensagens da moça no Facebook. Logo para ela, que odiava gatos!

Na segunda abordagem veio um chamado abrupto de madrugada: “bom dia! Como foi a viagem?”  Ela achou mais seguro responder, ao invés de ignorar o contato, como fizera da primeira vez. “Bom dia! Tem certeza de que sou a pessoa com quem quer falar? A que viagem você se refere?” Passados alguns minutos, a resposta: “Ah... desculpe, tenho uma sobrinha que tem o mesmo nome seu e me confundi.”  A moça aproveita  para avisar: “deve ter se confundido com o envio dos gatinhos, também...”  “Sim, sim”, responde a interlocutora bastante entusiasmada. “Eles não são lindos?”, ela continua. A moça silencia. “Mas, podemos ser amigas, não podemos?” A dona dos gatinhos pergunta.  A moça fecha a janela, sem nada responder.

Não é que ela seja grosseira, simplesmente não sabe o que fazer quando alguém lhe pede para “ser amiga” pelo Facebook. Não tem experiência acumulada de Orkut, nunca teve Orkut. E ela mantém um perfil no Facebook  para trabalhar. Para trabalhar, não para “fazer  amizades.”

Na pré-história, de onde vinha, amizade era algo que se construía com o convívio, o conhecimento, o tempo. Não se pedia para ser amiga, como se pedia para namorar. “Quer namorar comigo?”, era uma pergunta usual, que poderia até receber a resposta, “não, não quero, mas podemos ser amig@s.”

O que haverá por trás do pedido? Seria um jeito pós-moderno de pedir para namorar? Uma coisa mais mansa, sem aquela agressividade objetiva das redes sociais de caça, nas quais a fisiologia sem vaselina impera?  Ainda mais nas abordagens entre mulheres, nas quais o verniz da delicadeza insiste em obliterar a fisiologia pura? São mistérios (sem graça e sem tônus) das relações humanas mediadas pelo computador.

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