Querida Presidenta Dilma


Por Cidinha da Silva

Pela primeira vez na vida esperei as 21:15 de um dia 06 de setembro para assistir a um pronunciamento de Presidente da República, prévio ao Dia da Independência. Assisti sorrindo e fazendo comentários positivos. Que belo texto! Que boa assessoria tem a Presidenta para ajudá-la a escrever suas intervenções públicas.

Fiquei pensando no que essa mulher me provoca. Sinto orgulho, alegria, me sinto representada.

Dilma não era minha primeira opção nas eleições de 2010. Meu voto seria de Marina Silva. Por princípio, voto em mulheres negras, elas me representam. Só não o faço quando inexistem negras no pleito ou quando a plataforma política delas não dialoga com minhas idéias e preocupações.

A terceira impossibilidade é quando a candidata negra não se mostra à altura do meu voto. Foi assim com Marina. Embora nutra enorme admiração por sua biografia singular, eu não poderia votar em uma pessoa que professa valores inaceitáveis quanto à orientação sexual de outrem, à soberania da mulher sobre o próprio corpo e à garantia da liberdade para o exercício das diversas práticas religiosas. Isso para ficar apenas em três exemplos. Uma estadista não pode ser refém de crenças pessoais reacionárias. O campo político progressista deve falar mais alto.

Como era impossível votar em Marina, escolhi Dilma e a cada dia fico mais convencida (encantada) pela mão firme e humana desta mulher. É admirável a forma como ela não negocia e não tergiversa no tratamento aos pais e filhotes da ditadura. Não creio que Dilma venha a abraçar Marin ou a um militar torturador qualquer, por conveniência política ou outro motivo. Espero não queimar a língua.

Fiquei comovida quando a vi chorar na saída de Luiz Sérgio do Ministério da Pesca, para dar posse a Marcelo Crivella. Deve ser dilacerante ter que aceitar um sujeito como aquele em seu staff para manter a base de apoio político no Congresso e a coalizão de forças no Governo. Mais tocada ainda fiquei no momento de instalação da Comissão de Verdade. Esta, cujos trabalhos deveriam receber cobertura midiática tão significativa, quanto o julgamento do mensalão.

Dilma não é perfeita, é certo. Há equívocos quanto ao veto na distribuição dos kits sobre diversidade sexual nas escolas públicas, desvios de compreensão, assessoria fraca e sem poder de convencimento, posição errada no jogo de forças políticas, mas, há campo para seguir dialogando.

Os principais jornais no dia seguinte ao pronunciamento de 06/09 e mesmo o Jornal da Globo, horas após a exposição de Dilma, apenas ratificaram o que foi dito. Não vi questionamentos seguros à fundamentação de seus argumentos. É bom ter uma Presidenta que saiba decodificar a plataforma política e o planejamento estratégico de seu Governo para quem a escuta. Daqui a pouco, competitividade na produção e no preço final dos produtos será tema de conversa em botecos.

Comentários

Postagens mais visitadas