O pai do segredo!
História recontada a partir de um mito iorubá
Oxalá, o regente do mundo, pediu a
Orunmilá que lhe preparasse o prato mais saboroso que pudesse existir. Orunmilá,
que não era assim um grande cozinheiro, pensou, pensou e preparou o prato. À
medida que Orunmilá se aproximava do palácio de Oxalá, a comida cheirava tão
bem, mas tão bem, que antes de vê-la, o criador do mundo começou a salivar.
Quando destampou a travessa, encontrou uma língua de boi, finamente temperada
com ervas e inhame cozido em volta. Oxalá saboreou cada pedacinho da comida e
depois perguntou a Orunmilá porque escolhera aquela iguaria. Orunmilá explicou
que a escolha se dera porque, pela língua, podemos falar bem dos amigos e
proclamar a retidão e a justiça. Pela língua podemos exaltar os deuses e todas
as virtudes que a eles conduzem. Oxalá, muito satisfeito com a sábia resposta
de Orunmilá, abraçou-o e lhe deu mais uma tarefa. Disse ele: “agora, meu amigo,
quero que me prepare a pior comida possível.” Orunmilá recolheu a travessa
pensativo e passou o resto do dia a preparar o que de pior conseguira. Ao
anoitecer, dirigiu-se ao palácio de Oxalá com a comida pronta. Oxalá,
surpreendendo-se com o cheiro agradável do prato, franziu a testa e torceu o
nariz, pois esperava algo repugnante. Quando destampou a travessa, lá estava,
outra vez, uma língua de boi, ricamente temperada por ervas e cercada por
inhame cozido. Oxalá exclamou: “língua de boi, outra vez, Orunmilá?” “Sim,
língua de boi, grande Deus.” Oxalá não entendia como aquele prato poderia
representar a melhor e a pior comida e Orunmilá explicou: “A língua pode ser
também a pior comida. Com ela os seres humanos podem difamar os deuses e os
seus iguais. Podem dizer mentiras e induzir ao erro uma alma boa e ingênua.”
“Sábias palavras, concluiu Oxalá!” E foi assim que Oxalá tornou Orunmilá o
primeiro babalorixá do mundo, o primeiro pai do segredo.
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