Entrevista de Cidinha da Silva a Anderson Feliciano, parte II
*Anderson
Feliciano - não poderia deixar de falar da figura feminina na sua obra.
personagens femininas negras na literatura clássica, quase sempre escrita por
homens brancos, eram construídas a partir de um olhar machista e eurocêntrico.
Comente um pouco sobre a construção de algumas de suas personagens.
Cidinha da Silva - Ai, que pergunta boa! Dá vontade de
falar por horas, porque são mesmo muitas e cada uma tem uma história, nada é
aleatório nas minhas personagens. No Tridente, em Domingueira, tem a Nena,
personagem real, amiga-irmã, minha amiga mais antiga. Dançávamos Soul juntas na
adolescência. Dançávamos é plural majestático, porque ela dançava e a gente
assistia. E foi um tempo tão bom aquele, o mundo negro dos bailes Black, aquele
povo empoderado com as jubas de leão armadas. A consciência racial para a maioria
era só estética. Eu era atleticana, então desde os 9, 10 anos conhecia Reinaldo
e, mesmo não tendo internet naquela época, por algum caminho consegui conhecer
os Panteras Negras, que Reinaldo simbolizava em suas comemorações de gols. Eu
nunca tive um momento em que tenha me descoberto negra, sou negra desde sempre,
a vida não me deu opção diferente desta. E foi o que de melhor a vida me deu, a
consciência de ser negra e do que é ser negra num país racista como o Brasil,
desde que me entendo por gente. Voltando à Domingueira, foi também uma
homenagem (eu que não sou muito dada a elas) a uma amiga queridíssima.
Nesse mesmo livro tem Domingas e a cunhada, vivido
pelas personagens Domingas e Arminda, um casal de mulheres que vive junto há 50
anos, mas que não se define como casal. Vivem a relação de forma pública, como
se não houvesse sexo, e todo mundo faz de conta que acredita, é um acordo de
convivência numa cidade do interior mineiro. O texto é um dos mais populares do
livro, faz sucesso com a crítica também e tenho muito carinho por ele.
Lembro-me que, certa feita, numa oficina sobre minha produção literária, eu
percebia uma senhora negra, provavelmente professora, que me olhava com olhar
repressor. Seus olhos se fixavam muito nos meus dreads, devia ter uns 60 anos ou mais. De repente, escolhi ler
Domingas e como a senhora estava bem à minha frente, eu olhava para ela. Vi
então que o olhar repressor foi se transformando numa expressão de extrema
tristeza e consternação e ela depois começou a chorar, a princípio tímida, mas
quando cheguei na carta de Domingas que chamava Arminda para deixar a seca de
Serra Talhada, pegar um barco no São Francisco e ir viver com ela, a senhora
chorava muito, apertava a boca e tinha os olhos fechados. Acho que apressei o
fim da leitura e assim que acabei ela se levantou. Alguém a abordou, mas disse
que estava bem, agradeceu e saiu da sala, para não mais voltar.
Outra história com personagens lésbicas é Mais uma
história de amor, do Margem (2011). Ali são personagens urbanas, trabalhadoras
de repartição pública, casadas há 15 anos. Uma acomodada à vida sem atropelos
de funcionária pública, a outra com sonhos de independência financeira. A unir
as duas, a alimentação do amor com uma canção cantada por Alcione no play list de um karaokê, Entre a sola e
o salto.
Em Aconteceu no Rio de Janeiro, a personagem central é
dona Mariana, uma senhora de 80 anos, com corpinho de 65, como a narradora
define no texto. Trata-se de avozinha de bem com a vida que vive a sexualidade
e se diverte olhando rapazes sarados e de sunga, freqüentadores de uma padaria
carioca no final de tarde.
Redentoras, presente no Tambor (2008) por sua vez, é só
brisa. O texto debocha de um certo tipo de mulher heterossexual que se julga
“habilitada” para resgatar rapazes gays da homossexualidade. Uma versão light
de Silas Malafaia, talvez. É algo absurdo e praticamente todos os gays passam
por essas mulheres ao longo da vida. Então, resolvi tirar uma onda com a
intenção delas, pois quando não são violentas, embora sempre invasivas, são tão
ridículas que se tornam divertidas. Este é um dos únicos textos jocosos, em um
livro que é muito ácido. A acidez vai diminuindo, do primeiro para o último
texto, foi a forma que encontrei de tornar o livro mais palatável, até para mim
mesma.
Alugam-se moços é um texto duro sobre mulheres que contratam
homens para dançar. Baseia-se em fatos reais, como as pessoas gostam de saber.
É prática bastante comum na classe média paulistana, por exemplo. Se fossem
homens alugando mulheres, o aspecto sexual seria mais declarado, no caso delas,
é mais discreto, sabemos. E isso é explicitado no texto, bem como outros
caminhos que as personagens adotam para driblar a solidão típica das mulheres
bem sucedidas na faixa dos 40 anos e dali para cima. Imagino que a história doa
em muita gente e por isso também, o texto incomode e seja pouco comentado.
Em La mama há uma mãe de filho gay que não quer que ele
se case e tenha vida própria (tenta vê-lo como heterossexual) para assegurar
que ele lhe faça companhia durante a velhice.
Lições tem uma personagem que aprende a separar sexo de
amor na relação com os homens e quando se cansa de um deles, o mancebo
declara-se usado. Gosto de explorar nuances dos afetos neste mundo-bolha,
pós-moderno, em que vivemos.
Descompasso é outro texto doído. As personagens são
lésbicas, namoradas. As duas estão em uma loja e passam por um manequim
feminino. Uma delas olha estupefata para a exibição de top no manequim feminino e a bunda nua. A namorada, ao ver a cena,
exclama; “parece homem! Disfarça, pelo menos.” Há certos níveis de desencontro,
de não-percepção ou percepção distorcida da outra pessoa, que são impossíveis
de superar, porque a pessoa é vista como ela não é. É o caso das moças do
texto.
No Margem (2011), abundam as personagens femininas
interessantes, escolhi algumas para abordar aqui, vamos a elas: a primeira é
uma professora universitária de universidade pública, na qual foi adotado o
sistema de cotas para estudantes negros. Ela, provavelmente é afro-descendente
e passa por morena, de acordo com a conveniência dos interesses dos brancos.
Ela é do tipo bom coração que acredita que todas as pessoas merecem uma chance
para se mostrarem seres humanos melhores e, baseada nessa crença, ela vai à
festa de confraternização dos professores, na qual são feitos comentários
inacreditavelmente racistas sobre os cotistas negros.
Em A dúvida, Paula, uma prostituta negra, procura
atendimento psicológico para saber se as negras deveriam agüentar mais
programas por noite do que as brancas. O cafetão diz que sim, só que ela não
agüenta.
Em As Latinhas, também uma história baseada em fatos
reais, Marilúcia, moradora de um bairro de periferia e vizinha da narradora,
anda pelas ruas vasculhando o lixo das pessoas em busca de latinhas. A grande
questão é saber como a vida de Marilúcia se desorganizou a tal ponto, o que ela
busca no lixo. Como sua família reage à sua ação, já que ela continua morando
com os irmãos na casa dos pais falecidos. Eu conheci uma Marilúcia, fomos
adolescentes juntas. Quando a marilúcia que conheci ela me cumprimentou, em
frente à casa do meu pai, enquanto vasculhava o lixo do vizinho, eu precisei
inventar uma Marilúcia, para me situar outra vez no mundo.
Eliana sonha em ser Alice é um texto que provoca respostas
esquisitas, a meu ver. A reação das pessoas, inclusive de muitas negras, é de
comiseração com a criança branca (Eliana) que está num lugar tradicionalmente
ocupado por crianças negras, o de vender balas em semáforos. É curioso o quão
pouco as pessoas percebem e discutem o racismo presente na história. A
identificação humana com Eliana sobrepuja tudo. Acho curioso e, para resolver
minhas dúvidas (será que não consegui escrever direito o que pretendia?), penso
sempre que a literatura acontece na interpretação, no encontro entre a minha
verdade como autora, e o repertório pessoal, sócio-político, humano, de quem me
lê.
A benzedeira do texto A benzedeira é uma personagem que
gosto muito. Ela personifica as guardiãs da tradição que têm, dentre outras
funções, a de reconhecer as pessoas que levarão a tradição adiante e de investi-las
do poder de conduzir o bastão no momento certo. A ciência do tempo, também
presente nesse texto, é algo que me fascina muito.
Eu sou fã de Marina, personagem de O super. Trata-se de
uma mulher que viveu uma relação de desrespeito e violência doméstica e quando
vai a uma delegacia pedir informações sobre a perseguição policial ao ex-marido
agressor, ela conhece Cassiano, um investigador de polícia, que se revela um
homem à altura dela. Marina se redescobre, se reinventa, se firma no amor e no
desejo. Acho isso lindo. Ela é da turma do lança-perfume. O Cassiano também é
uma figuraça, mas você me pediu para falar das meninas...
Luli Arranca-telha é outra personagem que me inspira, é
protagonista do texto Luli Arranca-telha: modelo, manequim e funkeira, sucesso
maior nas oficinas literárias com as meninas da Fundação Casa (ex FEBEM). Luli
é alterego de outra funkeira que gosto, digo, gostei. Hoje não tenho opinião
formada, parei de acompanhar sua carreira. Eu queria mesmo escrever sobre a tal
funkeira, usando seu nome real, mas de ingênuo, basta o Paulo Lins, que
pretendeu homenagear o pessoal da Cidade de Deus usando seus nomes reais no
romance e foi processado por muitos deles, depois do sucesso do filme, com
objetivo de ganhos pecuniários por parte dos supostamente lesados.
Pensei: eu não contaria com o dinheiro de um filme de
sucesso e se alguém me processa por utilizar seu nome em uma crônica, vou pagar
com o que? Então, como seguro morreu de velho, criei Luli Arranca-telha. Foi
delicioso escrever o texto, consegui levar para a trama a Maria Tereza,
escritora e amiga, que se tornou a prima poeta da Luli.
Minha maior alegria na relação com Maria Tereza foi ter
podido mostrar o texto a ela, antes de publicado, logo, antes que ela entrasse
para a alentada lista das pessoas queridas que morrem cedo demais.
Luli é uma bafônica consciente de seu papel social,
nesse sentido, é uma Preta Gil da favela, aliás, também personagem do texto,
com nome real. Não gosto do bafo pelo bafo, PAA!!!! Este tipo de bafo não
convulsiona o stablisment, apenas o homologa.
Gosto do bafo que revoluciona e que tem consciência do que faz para construir
território ao desterritorializar o opressor. Preta Gil faz isso em larga
medida, noutra, mais estreita, é uma artista divertida, fruto de uma grande
família miscigenada (da qual se orgulha), que tem um público branco (com quem
dialoga muito bem) que lota suas noites pretas. Sou muito fã da Preta Gil,
embora não diga o mesmo de seu trabalho como cantora, que, sinceramente, não
acompanho de forma que me permita emitir opinião. Luli Arranca-telha dá corpo a
essas discussões todas, muito caras a mim.
Norma, personagem de Acabou, Norma, acabou! é aquela
mulher que tudo faz para agradar ao namorado (marido, noivo, amante, amigo
íntimo), não importando a hora, o local, ou as prioridades dela. Um dia, o
namorado resolve ir embora e seu mundo cai, como tantos outros mundos vivem
caindo por aí.
Em Fiz minhas velas ao mar, uma mulher que não tem
nome, desenvolve uma saga afetiva e musical para conquistar a mulher amada.
Lança mão das Iabás, de Itamar Assumpção (é muita luz pra pouco túnel, é muita
areia para meu caminhãzinho) e de Bossa Nova. Conclama raios, trovões, flores
virtuais, cria aforismos, mas nada resulta o desejado. É Milton Nascimento quem
a salva, ao compor a descrição do azul dada pelo ceguinho trovador, outro personagem.
O azul é a cor da voz de Milton Nascimento cantando Dolores Duran no ouvido,
sob a lua cheia, perfumada por uma dama da noite. Não vou mentir, não,
Anderson. É uma das coisas mais bonitas que já criei na vida.
Os nove pentes d’áfrica é meu xodó, é o livro que me
deu certeza de que eu era escritora. E ali, as personagens femininas refletem
uma plêiade de mulheres que me inspiram e admiro. Duas delas têm inspiração em
figuras do panteão dos orixás, a primeira, de maneira consciente, a segunda,
não, faz pouco que me dei conta. Barbinha, na definição mais precisa que já li
sobre ela, “não é a que tem mais idade, mas é a mais-velha”, dentre os netos de
Francisco. É a narradora do livro, é iansânica e é tão forte que pode se tornar
mãe do pai, Onirê, o filho de Ogum. Aqui, preciso fazer um parêntese para falar
deste personagem.
Certa feita, um filho de Ogum, “descompreendido”,
embora se arvore autoridade, enciumado, reclamou que os filhos de Xangô, no
livro, eram virtuosos e o único filho de Ogum era perdido, desqualificado. Coitado
(do meu interlocutor), mesmo sendo filho de Ogum, ainda não entendeu que talvez,
ele seja o orixá mais humano do panteão iorubá. Aquele mais suscetível à
cólera, à ira, á inconstância, mas também o que é capaz de amar intensa e lealmente,
de forma quase indescritível. O diálogo entre Barbinha e Onirê, a filha de Iansã,
e o filho de Ogum é dos mais belos do livro, em que pese a acusação de um
leitor crítico de que meus diálogos são fracos. Recomendo ao mimado filho de
Ogum que assista Ogum Deus e Homem, de Fernanda Júlia, volta e meia em cartaz,
em Salvador.
Voltando à Barbinha, a menina é pura essência de Iansã,
movimento, transformação.
Vó Berna, descobri há pouco, é filha de Oxum. Vô
Francisco é o protagonista xangônico da cena, mas quem reina naquela família é
ela, como reinam as filhas de Oxum no coração de seus amantes. Ai dos filhos e
filhas de Xangô que amarem uma mulher de Oxum! Serão seus servos voluntários
para todo o sempre.
As figuras femininas de O mar de Manu, Kadja e Baya,
respectivas mãe a e avó de Manu, são representações da sabedoria ancestral que
dá vida ao cotidiano, assim as defino.
A tríade feminina de Kuami me alegra muito, Janaína,
minha gatinha, Naomi dos Palmares, sua mãe, e Helena Tucunaré, companheira da
mãe. Respectivamente, sereia-mirim, mulher e peixa. Janaína é fofa demais, como
dizem os mais-novos da minha vida. É amorosa, solidária, impetuosa, madura.
Naomi é fantástica, soberana discreta, coerente e justa. Helena, desconfio, é a
peixa mais humana do meu mundo aquático. Ela é ciumenta, no amor que sente por
Naomi. O ciúme justifica o autoritarismo, a falta de tato para lidar com o amor
de Pixinga, também, por Naomi, aquela que já havia derretido o coração de
Hércules Baiacu, pai de Janaína e da própria Helena. É outra mulher de Oxum, percebi
agora, enquanto escrevo.
É isso e ainda falta muita gente. Ôh coisa boa!
Anderson - em uma entrevista a
poeta e filosofa viviane mosé disse que usa a “escrita como ferramenta para
experimentar a existência e falar da realidade”. e para você? de que maneira se
vale da escrita?
Cidinha - São muitas: às vezes a vida vem de britadeira
e eu vou de lança-perfume, não tanto por conquista afro-zen, mas por praticar o
exercício da dor que se quer gota no mar, por questão de sobrevivência, mesmo. A
resposta da filósofa é muito requintada para a minha existência literária miúda.
Quem acompanha futebol, viu o surgimento de um jogador
no Flamengo em 2010, chamado Negueba – não gosto do apelido, mas fazer o quê?
Acho que era um período de muitos pernas-de-pau e um comentarista da cidade de
São Paulo criou uma expressão para descrevê-lo que se tornou bordão, dizia ele:
“esse menino tem alegria nas pernas.” Eu diria que tenho alegria nos dedos. Escrever
me dá uma alegria indescritível e me dá malemolência para não confrontar as
britadeiras, pelo menos, não o confronto da areia contra o mar.
Escrever me lembra quem eu sou e que sou mais do que
pareço ser, quando as britadeiras me ensurdecem/embrutecem. Sim, faço um
exercício de ego profundo na escrita. É muito pessoal mesmo, o ato de escrever.
O mais são os temas, a diversidade temática,
principalmente das crônicas, que cria uma ilusão de amplitude. A profundidade é
mais verdadeira em meus textos, a amplitude, reputo ilusória. Às vezes são voltas
em torno do próprio rabo, disfarçadas pela criação literária.
Como você bem sabe, não entendo trufas de teoria
literária, mas gosto de pensar sobre o que escrevo (tenho umas veleidades
inspiradas por dois grandes entendedores da própria obra, Gil e Paulinho) e de
dar pitacos sobre a escrita dos outros. Assim,
para mim, a escrita e a reflexão sobre ela são plenas de significados, cores,
sabores e sons.
Anderson - Gosto
muito na sua obra à maneira que trabalha as questões de gênero. Saindo do lugar
comum, você expande nossa visão de mundo em relação a pessoas que se relacionam
com pessoas do mesmo sexo. Como tem sido o retorno em relação a isso de seus
leitores?
Cidinha - Insignificante, do ponto de
vista do volume de comentários. Quando os textos são lidos com o olhar da
crítica, reparo que são os homens que se arriscam a comentar os traços
homoafetivos dos meus textos. As mulheres se retraem. Houve uma analista, certa
vez, que destacou vários aspectos interessantes e tal (falava sobre o Tridente
e o Tambor) e conseguiu não emitir uma palavra sobre o tema. Eu relia o texto
para ver se não havia me enganado e tinha lido direito, mesmo. Mas, vai saber
como as coisas batem nos limites das pessoas, não é?
Eu sempre penso nos tempos em que Marta
Suplicy, heroicamente, defendia os direitos das populações LGBT no Congresso
Nacional. A maneira apaixonada como ela tentava convencer os colegas sobre a
legitimidade e a ética de garantir a todas as pessoas, inclusive aos LGBT,
obviamente, o direito a legalizar uniões estáveis, a adotar filhos, etc. E fico
tomada pela coragem de Jean Wylls, um menino leve como as folhas, mas que precisa
virar o Ogum mais portentoso já visto, para enfrentar e vencer Silas Malafaia,
o profeta desgraçado (aquele que não é ungido pela graça, o que não tem
iluminação), que quer extinguir a diversidade do mundo.
Em certa medida, era “mais fácil” para
Marta e ela tem consciência disso. Ela é heterossexual, à época, casada com um
dos homens mais respeitados e admirados do Brasil, de quatro costados, três
filhos bem criados, branca, rica, etc. Não sei, talvez os homens heterossexuais
que me lêem e também os gays assumidos sintam tranqüilidade maior para se
expressar.
Quanto aos leitores e leitoras que me
lêem por deleite, não costumo receber comentários específicos, não, à exceção
de comentários espontâneos, rarefeitos, de alguns amigos e amigas ou quando
peço opinião, por meio de leituras críticas.
Lembro-me que certa vez, no processo de
lançamento do Tambor, meu segundo livro, eu quis testar a leitura pública de
alguns textos inéditos, que depois vieram a ser publicados no Margem, livro
mais recente. Eram três textos de temática homoafetiva. Fiquei surpreendida com
o incômodo causado ao baluarte que eu havia convidado para comentar os textos e
que disse assim: “já está bom, não é? Vamos agora para a parte séria” (os
comentários dele sobre o livro em tela, por suposto). Ou seja, rola um
incômodo, a maioria das pessoas não consegue falar de vivências homoeróticas
com naturalidade.
*Anderson Feliciano é dramaturgo e escritor.
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