Tridentiando 8
“Oi querida Cidinha!
tudo em paz com você? Espero que esteja bem e feliz.
Estou aqui do outro lado do mundo. A terra dos
samurais e gueixas é realmente linda e estranha, mas
estou contente pelas escolhas feitas. Acho que você
não sabia que eu estava vindo pra cá e agora menos
ainda que "Cada tridente..." também.
Pois te falo como seu livro chegou aqui.
Um sonho de muitos anos se concretizou. Não sei dizer
quando começou, mas sempre pensei em vir para o Japão.
Um vontade danada e sem razão. Tentei muitas vezes e
sempre acontecia algo para eu não vir. Eis que dessa
vez aconteceu. Visto na mão e mochila nas costas vim
parar aqui. Faz um mês e tudo indica que serão muitos
outros...
Mas vamos ao "tridente"...
Começou ainda em Sampa quando na abertura do livro vi
algumas palavras do Sr Exu tranca Rua. Fiquei tão
comovido com essa coisa do "caminho" que acabei
decorando. Sem a devida autorização cheguei até a
colocar durante um tempo no meu orkut. Hoje coloquei
uma coisa mais zen budista: "...se sua casa pegasse
fogo, o que você salvaria? Ele disse: eu salvaria o
fogo!"
Depois foi "sobre o exercício da arte difícil e nobre
de estar só". Acabei lendo pra quase todo mundo que
ia me visitar em casa. Falei pra alguns por telefone
também. E assim foi com outros: "Dublê de Ogum",
'Aconteceu no rio de Janeiro!", "Cada tridente em seu
lugar"...
Quando estava nas vésperas de minha viagem pensava no
que iria ler durante a demorada e exaustiva viagem.
Peguei o "Pequeno tratado das grande virtudes" de
Andre Comte-Sponville, também "Capoeira Escrava" do
Carlos Eugenio Soares, e o "Cada tridente..." Pensava
como faria para continuar estudando, lembrando e
sonhando com as coisas que ficavam pra trás. Um
equívoco, não? Coisas assim não ficam para trás e é
bom que seja assim, eu na verdade não desejaria
isso.
Hoje a capoeira é minha religião, uma forte oração,
uma das coisas que mais me dão força e esperança. Como
é bom saber do que existe pelos nossos ancestrais e
como fazemos parte disso tudo.
Eu também gostaria de saber melhor como todos aqueles
que vem de Aruanda falam e olham por mim, mas não
estou bem certo, apenas sinto que eles estão aqui... e
fico feliz por isso.
Olha eu fugindo do Tridente...
Agora ele esta na cabeceira do tatami. Ontem mesmo eu
li "Sobre o exercício..." para minha namorada. Ela
gostou e disse que entendia, que sabia como era.
Agora vamos ler outros mais.
Bom, eu vou. Te escrevo mais outra hora”. ( quase anônimo 11)
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